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Sexo

Este texto é uma sugestão: que tal a gente se dedicar mais ao sexo?

Pode parecer loucura sugerir o que já está dentro, incentivar uma vontade que não passa, porém, aos rigorosamente sensatos, apresento estatísticas: a atividade sexual dos adultos de hoje caiu pela metade em relação à geração anterior. E esses são dados anteriores à pandemia. Diferentes pesquisas, em diferentes partes do mundo, constataram que vivemos uma crise do desejo.

Até algumas décadas atrás, o problema era o sexo reprimido. Agora, o problema é o sexo abandonado. Antes, a proibição moralista produzia quase uma obsessão pelo tema. Hoje, a queda de muitos impedimentos facilitou o desinteresse. Parece que só conhecíamos um caminho em direção à sexualidade, aquele que misturava atração e culpa. Não aprendemos, por exemplo, os caminhos da satisfação e da saúde.

É muita série para ver, muita postagem nas redes sociais e deixamos de lado a diversão mais antiga. Tempos egocêntricos não oferecem espaço para a conexão. Afinal, um individualista não quer descobrir que depende de outra pessoa, nem quer correr o risco da rejeição. É tanto medo de se expor ao outro, que é mais fácil deixar pra lá e mergulhar na neurótica negação. A avareza afetiva que está em vigor não combina mesmo com sexo. Sexo é generosidade.

Mas nos escondemos, amedrontados pela memória de experiências ruins, controlados pelas ideias distorcidas que nos contaram. Minha filha caçula perguntou por que as pessoas xingam usando palavras que são partes do nosso corpo. Boa pergunta. Nossas intimidades não deveriam ser atiradas como pedras.

No caso das mulheres é ainda pior. A mulher dá. O homem possui. Ao fim da relação, ela está expropriada, como se fosse preciso pagar um preço em troca do prazer. Não! O sexo não precisa levar nossa dignidade, ele pode nos engrandecer.

Santo Agostinho, em seus pensamentos, dividiu o mundo entre aquilo que deve ser usado e aquilo que deve ser fruído. Pois pessoas não devem ser usadas. Devem ser usufruídas, com reverência e respeito.

Vão dizer que isso não é possível agora por causa da quarentena. Eu discordo. Já tentou tirar pra dançar aquele parceiro, que agora passa o dia de pijama? Já pensou que a falta de privacidade pode aumentar a graça de fazer sexo escondido? Já imaginou que, sem o contato físico, o contato virtual pode ser mais rico de conversas e fantasias?

E, para quem não tem parceiro presencial, nem virtual e nem vontade de procurar, o momento pode ser de se encontrar. Saber do nosso próprio erotismo é o que nos faz mais desejantes e desejáveis. Nada de perseguir o jeito certo ou o corpo certo. Técnica, meta e performance só se aplicam aos negócios. Pornografia digital serve apenas para nos fazer esquecer da digital que imprimimos na pele de quem escolhemos tocar. Sexo se faz com imaginação, com histórias que contamos para nós mesmos, sem artifício emprestado.

Procure seus próprios gostos e sensações. Estão na anatomia, mas estão em volta também. Já pensou como pode ser sensual escutar uma música, escutar o som da água do banho? Faça sexo com o espelho. Faça sexo com o sol. Tire a roupa para ele te alcançar os segredos mais quentes. Deixe o frio brincar de arrepiar a sua pele. Principalmente, se deixe, indolente. Um tempo para se derreter, em vez de se defender. Esqueça a luta, se concentre na entrega. Ceda ao gesto criativo e espontâneo.

Ceder ao impulso do sexo pode nos tornar mais predispostos ao encontro. É tratamento preventivo contra a solidão.

Já que temos dificuldade de confiar nos sentimentos, podemos tentar confiar no corpo e deixar que ele nos leve a alguma verdade.

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